Está claro que a intensificação do desenvolvimento desigual é um fenômeno generalizado na UE e no sistema imperialista internacional. A característica geral da depreciação do capital durante a crise não se manifesta proporcionalmente em todos os estados, setores e empresas (de capital privado ou por ações). Assim, a recessão e a fase de estabilização e revitalização ocasionam reorganizações da correlação de forças entre as várias empresas, setores e economias em nível estatal.
No entanto, mudanças importantes se incubam num período amplo que inclui mais de um ciclo de crise econômica. A crise atual cristaliza as mudanças na correlação de forças incubadas nos últimos 30 anos, aproximadamente em 3 ciclos de crise que afetaram a maioria das economias capitalistas avançadas. Nos últimos 10 anos estas mudanças se aceleraram.
No período de 1980-2008, a tendência à queda da participação dos Estados Unidos, da Zona do Euro e do Japão no PIB foi dominante. De forma contrária, a participação da China aumentou (440% no período de 1980-2007), e a China alcançou a terceira posição, atrás da Zona do Euro. Além disso, a participação da índia e da Rússia no PIB também aumentou (a índia, 110% no período de 1980-2007, e Rússia, 19,3% no período de 2000-2007).
A participação da Zona do Euro caiu rapidamente no período de 2000- 2007 (12,8%), igual à participação da Grécia (aproximadamente o dobro da média da Zona do Euro). A tendência para a piora da participação se mantém, em 2008 e 2009, quanto aos Estados Unidos, à Zona do Euro (incluindo a Grécia) e o Japão.
As mesmas tendências se refletem na participação proporcional nas entradas e saídas (inflow/outflow) mundiais de capital para investimentos diretos, embora com algumas diversificações; mas, concretamente, no período entre 1980 e 2006, a China, a Rússia e a índia viram subir sua participação no crescimento de entradas e saídas (com flutuações), enquanto os Estados Unidos viram como sua participação caía. O Japão mantém sua parte em saídas, enquanto a Zona do Euro aumenta sua participação em entradas e saídas, mantendo a primeira posição internacional. No período de 1980-2006, a participação grega nas entradas foi reduzida (de 1,22 a 0,41%}, enquanto sua participação em saídas aumentou (de 0% em 1990 a 0,34% em 2006). Durante esse período, a Grécia se converte em exportador líquido de capitais.
A participação nas exportações e importações mundiais constitui outro índice importante. No período de 1980-2007, a participação nas importações e exportações refletiu as seguintes tendências: os Estados Unidos tiveram uma perda na participação das exportações (de 11,1% em 1980 a 8,41% em 2007), igual ao Japão (de 6,42% a 5,13%). A Zona do Euro manteve praticamente igual sua proporção, com flutuações, mantendo a primeira posição (1980: 30,75%, 1990: 35,05%, 2007: 29,19%). No entanto, a perda de 6% no período de 1990-2007 não deve ser subestimada. A Grécia sofreu uma perda na sua participação (1980: 0,25%, 2007: 0,17%).
A participação da China denotou um incremento espetacular de 890% (1980: 0,89%, 2007: 8,81%}, ficando na segunda posição, à frente dos Estados Unidos. A Rússia e a índia também mostram uma tendência a subir, mas ainda tem pouca participação (em 2007, a Rússia teve uma participação de 2,57% e a índia, de 1,05%).
A tendência na participação nas importações mundiais é a seguinte: a Zona do Euro mantém a primeira posição nas importações com uma tendência à queda (1980: 34,28%, 2007: 28%). A Grécia continua no mesmo nível (1980: 0,51%, 2007: 0,53%). A participação do Japão se reduz (1980: 6,81%, 2007: 4,41%), enquanto a dos Estados Unidos cresce (1980: 12,39%, 2007: 14,35%) e mantém a segunda posição em importações, igual à da China (1980: 0,96%, 2007: 6,8%), que tem a terceira posição. Além disso, a Rússia e a índia refletem um aumento limitado de sua participação.
Também está se reorganizando o âmbito privado (ou de fundos corporativos). Segundo a lista dos 1000 homens mais ricos da Grã- Bretanha, publicada na edição semanal do “Sunday Times”, a metade dos dez primeiros aumentou sua riqueza durante a crise em 1.054 milhões de euros (43%), enquanto o resto viu cair sua riqueza em 33.738 milhões de euros (-242%).
Em condições de recessão, enquanto o número de companhias com perdas se incrementa, há empresas que ainda acumulam lucros, com taxas reduzidas ou crescentes. No segundo caso, por exemplo, inclui-se a empresa alemã Siemens, que no primeiro trimestre de 2009 alcançou lucros de 1.010 milhões de euros, enquanto no primeiro trimestre de 2008 seus lucros foram de 412 milhões de euros (incremento de 145%), com um incremento anual de vendas de 5%.
Fenômenos similares acontecem na economia grega. A estimativa de lucros dos 8 principais bancos (National, Eurobank, Pireaus, Cyprus, Marfin, Agricutural Bank oj Greece e Emporiki) para o primeiro trimestre de 2009 era de 610 milhões de euros, enquanto no primeiro trimestre do ano passado os lucros foram de 1.195 milhões de euros, o que mostra uma queda de 50%.
A reclassificação das ações também se leva a cabo em um subsetor como o do transporte aéreo, entre a Olympic Airways e a Aegean Airlines. A reclassificação também se promove por meio de amortizações como as do Grupo Marfin (Vivartia e Olympic Airways) e da fusão já incubada de novas empresas financeiras na Grécia.
Esta tendência é óbvia no mercado internacional, particularmente nos setores nos quais a crise de superprodução se manifestou inicialmente, como a indústria automobilística.
Assim, um novo ciclo de centralização de capitais, que havia se depreciado na fase de recessão, está se preparando para entrar numa fase de crescimento, por meio do processo produtivo, do processo de exploração da força de trabalho.
A saída da recessão busca ganhar um lucro adicional conquistando novos mercados. Cresce o antagonismo, são discutidas velhas regulamentações e estabelecidas outras novas, inclusive, aproveitando as condições criadas pelas guerras imperialistas.
Estas tendências podem ser resumidas da seguinte maneira:
- Os Estados Unidos continuam sendo a primeira potência no PIB, mas com uma deterioração de todos os outros índices.
- O crescimento da China é impressionante, ainda que não esteja à altura da produtividade global (per capita).
- A posição competitiva das mercadorias da Zona do Euro melhorou (ao contrário da posição da Grécia, que se deteriorou). A posição da China melhorou ostensivamente, enquanto que, por outro lado, é bastante óbvia a deterioração da posição competitiva dos Estados Unidos e do Japão.
- A posição competitiva da índia e da Rússia se mantém baixa, mas com uma tendência à alta.
- A posição da Grécia se reflete de forma contraditória. Por um lado, sua participação no PIB é baixa, e sua posição em relação às exportações piora, caracterizada, principalmente, por uma participação relativamente menor que sua participação no PIB, enquanto melhora a posição que ocupa na saída de capitais.
O índice “posição de investimento internacional líquido” para a Grécia continua sendo negativa (soma de Investimentos Diretos, Investimentos na Bolsa, Derivados, outros investimentos, Reservas de Divisas), em 183.944 bilhões de euros em 2008, embora caia a porcentagem do PIB (2006: -83,6%, 2007: -94%, 2008: -75,7%) [4].
Em combinação com o desenvolvimento de outros índices econômicos, já mencionados, podemos afirmar que, durante o período de integração na CEE - e particularmente na Zona do Euro -, a economia grega perdeu quanto à sua posição competitiva na produção industrial doméstica (principalmente a indústria manufatureira), mas aumentou a acumulação de capital e a exportação de investimentos diretos.
Devemos assinalar neste ponto que, entre os mil mais ricos com atividade econômica na Grã-Bretanha, há 10 gregos, 4 dos quais estão entre os 100 primeiros (D. Leventis, M. Laimos, E Niarchos, St. Hatziioannou). Esses dados confirmam a afirmação do XVIII Congresso do KKE de que a Grécia ocupa uma posição intermediária no sistema imperialista internacional, mantendo a mesma posição - a penúltima - na Zona do Euro, mas com uma posição melhorada no mercado dos Balcãs.